Eu sou do tipo Mãe Coruja. Gosto da minha prole sempre debaixo da minha asa.
Mas, desde sempre, soube que esse dia chegaria:
A hora de dizer “Vai, filho.”
A gente cria os filhos para o mundo.
E quando eles não precisam mais de nós para viver, é sinal de que o nosso papel está cumprido.
Ainda assim, coração de mãe é fogo.
Mesmo sabendo disso tudo, a vontade de dizer “você não vai e pronto” sobe na garganta tantas vezes que a gente precisa engolir seco no meio da conversa.
O mais curioso?
Eu sei que ele está pronto.
Sei que pode levar uma vida boa, responsável, longe de mim.
Mas… e eu? Como fico sem o meu filho?
Vou até o quarto olhar se ele está dormindo — e me dou conta de que ele não dorme mais ali.
Separo comida para quando ele chegar da faculdade, mas a comida vai ficar.
O caminho dele agora não é mais o da nossa casa. É o da casa dele.
Meu Deus… que dilema.
Consigo ver maturidade nele.
E sei: esse desafio vai fazê-lo crescer ainda mais, criar responsabilidades que não dependam de mim para serem cumpridas.
Eu entendo. A vida é assim.
Está tudo bem.
Uma hora todos eles seguem seus caminhos…
Mas e a gente, Mães, como lidamos com esse silêncio que sobra no corredor?
O que falar nessa hora?
Será que grito e mando ele calar a boca e voltar pro quarto como quando era criança?
Respiro fundo.
Sou mãe. Resolvo isso com amor.
Então, eu falo:
“Meu filho, quero que saiba que deixo você ir viver seus novos desafios com o coração saltando pela boca de tanto medo.
Mas não posso te privar de se desafiar e se provar como um jovem adulto.
Prefiro que você saia de casa assim: em paz, feliz, sabendo que estarei sempre ao seu lado — te apoiando e dando forças para o seu desenvolvimento.
Você é grande. E sei que esse mundo que criei à sua volta já está te sufocando… ficando pequeno.
Vai, filho. Vai descobrir as maravilhas (e os desafios) de ser dono do seu próprio nariz.
As dificuldades virão, sim, mas são como as provas da escola: a cada bimestre você precisa passar por elas para subir de fase.
E o mais importante:
Se você se arrepender, eu estarei aqui.
Se não der certo, eu estarei aqui.
Se você quiser voltar, estarei aqui.
Se você desistir… estarei aqui também.
Vai, meu filho. Vai viver seus sonhos.
Se tem alguém que merece vencer na vida, esse alguém é você, e você já é um Vencedor.
Parabéns pela coragem de ser quem você é.”
E ali fiquei eu…
de pé na porta, com a chave dele ainda no chaveiro antigo, o peito cheio de saudade, e o coração gritando em silêncio: “Meu Filho, vai Voar.”